Por Gabriele Greggersen
Fiquei
bastante intrigada nesses dias com a notícia de que todos os produtos
do supermercado devem conter a informação sobre os impostos devidos ao
governo, embutidos no preço. Como bem observou o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, essa nova resolução é impraticável, já que isso aumentará
o custo dos produtos, o que reverterá sobre o preço.
Tirando
esse aspecto bastante paradoxal, há outro detalhe que penso ser digno
de nota: essa informação é útil? Não é só pelo aspecto de que sejam
raros os consumidores que leem as informações contidas na embalagem dos
produtos (quem sabe eu pudesse me limitar a dizer que sejam “raros os
consumidores que leem”....), mas mesmo que eles leiam, que efeito essa
informação terá na vida do consumidor? Pois, se essa pergunta não é
feita, a informação valerá pela mera informação, e não como conhecimento
útil.
Na prática, pouco ou nenhum efeito terá a
informação sobre o fato de pagarmos impostos absurdos toda vez que vamos
ao supermercado. Poderíamos comparar essa resolução com aquela do
“ficha limpa”. Neste último caso, a informação, ao atingir o eleitor,
terá efeitos visíveis e concretos.
Mas que efeito se
poderá esperar da informação sobre o imposto do produto? Quem sabe
ficaremos mais apreensivos e se tivermos os meios de influenciar a
cobrança de impostos, quem sabe essa informação mude alguma coisa.
Você
pode me dizer que sou cética, que a informação sempre é válida, que as
pessoas, ao se conscientizarem de certas realidades, poderão alterá-la.
O
que me incomoda nessa teoria é a crença de que só a informação possa
alterar a realidade. Mas enquanto tal informação não for canalizada para
se tornar conhecimento, de nada ela adiantará para alterar a realidade.
Somos diariamente bombardeados por informações. Mas quantas delas
alterarão nossa vidas na prática?
Quantas são as pessoas
que na sociedade da informação reduzem o conhecimento ao dado? Cremos
piamente que “a voz do povo é a voz de Deus”. E se o povo estiver
errado? E se a crença na democracia for uma falsa impressão de justiça,
que é um passo além da democracia? E quantos sabem o que a democracia
significa na prática?
No mundo cristão, quantos são os
cristãos que confundem conhecimento com informação? Quantos são os que
vão à igreja à espera de informação, e não de conhecimento
transformador? E quantos são os pastores que atendem a tal expectativa
para manter o seu público interessado? E quantos são os pregadores, eles
mesmos, que confundem conhecimento e informação?
Se a
informação fosse conhecimento, a igreja seria logo substituída pela
pregação virtual. E onde fica a comunhão? Não sou contrária à sociedade
da informação, mas sou muito mais favorável à sociedade do conhecimento.
Enquanto
a informação é como o dado colhido no laboratório pelo médico, o
conhecimento é a prescrição completa que o médico formulará com ajuda
dos dados. A diferença entre as duas coisas é significativa.
Conhecimento tem a ver com intimidade, com convivência com diálogo e com
transformação.
Fonte: Últimato