quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O conhecimento de Deus na criação e o Evangelismo

conhecimentoevan
Por Alex Daher

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis. (Romanos 1.20).

Todas as pessoas em todos os lugares do mundo sempre estiveram inundadas com o conhecimento de Deus através da criação. Para onde quer que alguém olhe, ali está uma manifestação visível do Deus invisível. A terra está cheia da glória de Deus (Is 6.3) e os céus proclamam essa glória o tempo todo (Sl 19.1).

Refletindo sobre esse fato – chamado geralmente de revelação geral (ou natural), Stephen Charnock (1628-1680) lista dez atributos de Deus que podem ser vistos através da natureza:

(1) o poder de Deus, ao criar um mundo a partir do nada; (2) a sabedoria de Deus, na ordem, variedade e beleza da criação; (3) a bondade de Deus, na provisão que Deus faz para Suas criaturas; (4) a imutabilidade de Deus, porque se Ele fosse mutável, Ele não possuiria a perfeição do sol e dos corpos celestes, “nos quais nenhuma mudança tem sido observada”; (5) Sua eternidade, porque Ele precisa existir antes daquilo que foi feito no tempo; (6) a onisciência de Deus, pois como Criador Ele precisa necessariamente conhecer tudo o que Ele fez; (7) a soberania de Deus, “na obediência que suas criaturas devem a ele, ao observar suas várias ordens e ao se moverem no espaço em que ele as coloca”; (8) a espiritualidade de Deus, pois Deus não é visível, “e quanto mais espiritual é uma criatura no mundo, mais pura ela é”; (9) a suficiência de Deus, pois Ele deu a todas as criaturas um início, então o ser delas não era necessário, o que significa que Deus não precisava delas; e finalmente (10) Sua majestade, vista na glória dos céus.¹
De um lado, então, temos as cosmovisões ateísta e agnóstica, que defendem a ideia de que Deus não existe (ateísmo) e de que não é possível realmente saber se Deus existe ou não (agnosticismo). Do outro lado temos a cosmovisão cristã, afirmando que “os atributos invisíveis de Deus [...] claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, por meio das coisas criadas” (Rm 1.20). Segundo o testemunho bíblico, portanto, o problema do homem não é falta de evidência, mas um coração insensato que obscuresse o entendimento (v.21) e deixa o homem em um estado de ignorância espiritual. John Piper explica nestes termos:

Nossos corações centrados em nós mesmos distorcem nossa razão ao ponto de que somos incapazes de concluir inferências verdadeiras sobre o que realmente está lá. Se nossa desaprovação à existência de Deus é suficientemente forte, nossas capacidades sensoriais e racionais não serão capazes de inferir que ele está lá. [...] A corrupção do nosso coração é a raiz mais profunda de nossa irracionalidade.²
Implicações para o Evangelismo

Diante da realidade de que o homem não dá a glória e gratidão que são devidas a Deus, podemos pensar em algumas implicações relacionadas ao evangelismo:

  • 1) Não há pessoas inocentes. Mesmo aqueles que nunca ouviram o Evangelho estão em rebelião contra Deus. “Devemos abandonar o mito do indígena inocente”.³ Não há nenhum justo, nem um sequer (Rm 3.10-18).

  • 2) O problema da humanidade é a dureza de coração, não simplesmente seu comportamento externo ou sua incapacidade intelectual. Somente um novo coração (Ez 36.26) através do novo nascimento (Jo 3.3) pode resolver nosso problema de cegueira espiritual. E somente o Espírito Santo tem poder para isso.

  • 3) O evangelho deve ser pregado. Como o cristianismo histórico tem afirmado: O conhecimento de Deus através da criação é suficiente para condenar, mas não para salvar. Somente a mensagem do evangelho pode levar o homem à reconciliação com o Criador e ao verdadeiro conhecimento que dá a vida eterna (Jo 17.3, 1 Jo 2.3). “E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14).

Isso deve nos impulsionar a pregar o Filho de Deus crucificado e ressurreto para a remissão de pecados. O conhecimento que salva está disponível somente em Cristo, “em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3). A natureza não pode salvar. Apenas Cristo é capaz de revelar o conhecimento de quem Deus é para a salvação (Jo 1.18).

Por causa disso, aqueles que desistem de sua rebelião com Deus, se arrependem e recebem a Cristo pela fé, o fazem somente por causa da ação da graça soberana de Deus em seus corações. Não foi algum tipo de resto de bom senso pós-queda, um raciocínio mais desenvolvido ou boa capacidade de reflexão. Não fosse pelo Evangelho de Cristo, toda a humanidade teria permanecido em um estado de incredulidade, mesmo diante de tantas manifestações dos atributos de Deus na criação. Não fosse a misericórdia do Rei, todos os súditos rebeldes seriam justa e eternamente condenados.

Que essa realidade nos mova a compaixão por aqueles que estão fora de Cristo, e tenhamos a mesma convicção de Spurgeon: “Evangelismo é um mendigo contando a outro mendigo onde encontrar pão”. E assim aqueles que antes estavam cegos possam olhar para a natureza com os olhos iluminados pela fé e dizer:

“Quanto contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
e a lua e as estrelas que estabeleceste,
que é o homem, que dele te lembres?
E o filho do homem, que o visites?” (Salmos 8.3-4)
Para o louvor da glória da graça de Deus por meio de Jesus Cristo (Ef 1.6).

¹ BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. A Puritan Theology: Doctrine for life, Grand Rapids, MI: Reformations Heritage Books, 2013. Kindle Edition, locations 738-745, tradução nossa.
² PIPER, J. Think: The life of the mind and the love of God, Wheaton, IL: Crossway, 2013. p. 63, tradução nossa.
³ Ponto defendido na exposição Por que devemos pregar aos gentios? de Augustus Nicodemos na 27ª Conferência Fiel, realizada em Outubro de 2011. Disponível em: http://vimeo.com/30519014.

Fonte: Ipródigo

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