O que significa a expressão: “Nos lugares celestiais” (επουρανιος [epouranios]). Significa:
“1) que existe no céu. 1a) coisas que têm lugar no céu. 1b) regiões
celestiais. 1b1) o céu em si mesmo, habitação de Deus e dos anjos.1b2)
os céus inferiores (referência às estrelas). 1b3) os céus, (referência
às nuvens. 1c) o templo celeste ou santuário 2) de origem ou natureza
celeste ”
INTRODUÇÃO
Talvez algumas perguntas venham à mente no início dessa exposição são:
essa expressão “Nos lugares celestiais” deve ser sempre interpretada da
mesma forma? Sempre com o mesmo sentido em todos os textos que ela
aparece? Os textos são os seguintes na carta de Paulo aos Efésios: (1.3 ;
1.20 ; 2.6 ; 3.10 e 6.1 2 ). Em todos esses textos eu devo
interpretá-la da mesma maneira? Os lugares celestiais de 1.3; 1.20; 2.6
são o mesmo dos 3.10 e dos 6.12 da carta de Paulo aos efésios? Vejamos
algumas explicações.
ANÁLISE DO TEMA PROPOSTO
Segundo Hendriksen: "a expressão ‘nas regiões celestiais’ ou,
simplesmente ‘nos celestiais’ (usada no sentido de local em 1.20, 2.6,
3.10, e provavelmente também como localidade em 6.12) indica que essas
bênçãos espirituais são celestiais em sua origem, e que do céu vieram
para os santos e crentes que se acham na terra (cf 4.8 C.N.T. sobre
Filipenses 3.20 e sobre Colossenses 3.1) ."
Então lugares celestiais tem o mesmo sentido em todos os textos acima?
Talvez a maior dificuldade seja entender como ocorre uma luta nos
lugares celestiais onde está Deus e que pela fé também já estamos com
Cristo e que de lá provém às bênçãos espiritais dos crentes e ainda há
uma luta, como mostrada em Ef. 6.12. Isso pode ser explicado
considerando o seguinte: "O termo ‘regiões celestiais’, ainda que
signifique em todos os lugares incluindo aqui, referindo ao que se pode
chamar, num certo sentido bem amplo, ‘a esfera celestial’, não pode ter
precisamente o mesmo significado que em outros lugares. (grifo
acrescentado) Enquanto que nas demais passagens de Efésios indica o céu
de onde descem as bênçãos (1.3), onde Cristo se acha assentado à destra
do Pai (1.20), onde os redimidos estão sentados com Cristo (2.6) e onde
os anjos eleitos tem sua habitação (3.10), aqui se refere à região acima
da terra, porém abaixo do céu dos redimidos; em outras palavras, aqui
se deve indicar o que em 2.2 se denomina ‘o império do ar’. Sendo que a
referência é a ‘os governantes dessas trevas’ com quem os crentes devem
contender, esta alteração na aplicação do termo não deve trazer nenhum
problema.”
Hendriksen comentando Ef. 2.2, lista algumas razões para se entender o
texto referido acima. Também diz que de modo algum os espíritos malignos
são donos exclusivos da situação. No que se refere ao crente e ao seu
conforto as passagens de Ef 1.20-23; Cl 2.15; Rm 16.20; Ap 20.3.10; Gn
3.15 e Jo 12.31,32, devem confortar todos os cristãos em relação a esses
espíritos malignos e suas influências. .
"Seguramente nem Satanás e nem seus anjos caídos estão no céu dos
redimidos (Jd 6), Se, pois, e de acordo com a doutrina consistente da
Escritura, os espíritos devem estar em algum lugar, porém não no céu dos
redimidos e se nesta presente era não podem ser restringidos ao
inferno, é estranho que Efésios 2.2 fale sobre o ‘príncipe do império do
ar’? Não é simplesmente que natural que o príncipe do mal seja capaz,
até onde Deus em seu governo providencial o permita de lavar a bom termo
sua obra sinistra de enviar suas legiões a nosso globo e sua atmosfera
adjacente?" .
É perfeitamente entendido que Satanás exerce algum poder sobre as
pessoas inclusive sobre os eleitos (embora ele não possa possuir os seus
corpos cf. 1 Co 6.19, 20; 2 Co 6.15; Tg 4.5; Ef 1.13, 14 e muitos
outros textos), mas tem algum tipo de ação na vida dos salvos, isso é
visto na própria carta aos Efésios no capítulo 6 onde é mandado ao
crente se revestir da armadura de Deus para a luta contra os seres
malignos.
Algo que merece um esclarecimento é em relação à diferença de
significado das passagens de Ef 3.10 e Ef. 6.12. Por que não se referem
aos mesmos anjos? Por que em 3.10 são considerado anjos eleitos e em
6.12 é dito ser os anjos caídos? O motivo é o seguinte: "[...] é
verdade que a expressão ‘principados e autoridades’ é neutra, assim como
'anjos’. Gabriel é um anjo, porém Satanás também o é. Em cada caso o
contexto é o que determina se a designação se refere a anjos em geral,
como em 1.21, a anjos maus, como em 6.12, ou a anjos bons. Ainda a
adição, aqui em 3.10, das palavras ‘nas regiões celestes’ não é decisiva
para determinar se a referência é aos anjos bons ou aos demónios, como
6.12 estabelece. Não obstante, ainda não vejo razão para discordar de
Calvino, Bavink, Grosheide, Hodge, Lenski e da multidão de eminentes
teólogos e comentaristas, que creem que 3.10 se referem aos anjos bons e
não aos maus. Minhas razões são as seguintes: (1) Aqui (3.10), não há
referência a qualquer conflito entre os crentes e as hostes espirituais
da maldade. Em 6.12, a questão é inteiramente outra. (2) Tanto a
linguagem quanto os pensamentos contidos são elevados. Bem faremos se
levarmos a sério os comentários de Calvino. Diz ele: ‘Alguns preferem
considerar que estas palavras se referem aos demónios, porém sem uma
justa reflexão... Não pode haver dúvida sobre o fato de que o apóstolo
se esforça em exibir na mais plena luz a misericórdia de Deus para com
os gentios e o alto valor do evangelho... A intenção de Paulo é: A
igreja, constituída de judeus e gentios, é um espelho, no qual os anjos
contemplam a admirável sabedoria de Deus manifestada de uma maneira até
então desconhecida dos anjos. Eles vêem uma obra que é nova a seus
olhos, e a razão pela qual estava escondida em Deus.’. (3) O fato de que
a igreja, como obra mestra de Deus por meio da qual são refletidas suas
excelências, é um objeto do interesse e escrutínio para os anjos bons,
se faz evidente também à luz de outras passagens (Lc 15.10; ICo 11.10;
IPe 1.12; Ap 5.11ss). Efésios 3.10 se harmoniza maravilhosamente com
tudo isso."
O que deve ser atentado é que na passagem de Ef 6.12 há uma luta entre
os crentes e os anjos caídos. Essa luta dá a entender que é os crentes
lutam na dependência total de Cristo, é claro, contra esses anjos ditos
no texto. Isso não ocorre no texto de Ef 3.10, onde há apenas uma
descrição desses principados e potestades e de sua relação com Deus .
Esses lugares celestiais do texto de 3.10 são o mesmo de Ef 2.6; 1.3 ,
que designam o céu, como lugar de habitação de Deus, o que é diferente
do céu do texto de Ef 6.12, que é a localidade entre céu dos eleitos e a
terra, onde acontece a luta referida no texto de Ef 6.
CONCLUSÃO
Tendo em vista o exposto acima a conclusão que se chega é que nem sempre
a designação “nos lugares celestiais” pode ser dita que é o céu que
Paulo citou em 2Co 12.2. Pode ser que às vezes a compreensão do texto
seja outra, designando ora o céu e ora a região entre o céu dos
redimidos e a terra. Como exposto acima cabe ao crente o estudo de cada
passagem para uma melhor compreensão do texto bíblico e analisar segundo
o contexto próximo e depois pela analogia da fé das Escrituras o melhor
sentido para cada passagem. Fica a dica para que a cada dia todos nós
nos esmeremos mais no estudo da Palavra de Deus, buscando sempre
entender que nem tudo está totalmente claro a homens limitados. Sei que
nem todos os pontos foram abordados e talvez ainda haja dúvidas, mas
espero que esse breve estudo tenha contribuído para o crescimento de
todos nós. Qualquer dúvida ou acréscimo eu estarei a disposição dos
irmãos.
Cristiano Melo
*****************************************************************************
Strong, J. (2002; 2005). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (H8679). Sociedade Bíblica do Brasil.
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual
nas regiões celestiais em Cristo, 20 o qual exerceu ele em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direitac nos
lugares celestiais 6 e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez
assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus;para que, pela igreja, a
multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados
e potestades nos lugares celestiais, porque a nossa luta não é contra o
sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal,
nas regiões celestes.
HENDRIKSEN, Willian. Comentário do
Novo Testamento: Efésios e Filipenses. Trad. Valter Graciano Martins. 2ª
ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p.89.
HENDRIKSEN, Willian. Comentário do
Novo Testamento: Efésios e Filipenses. Trad. Valter Graciano Martins. 2ª
ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p.323.
Idem., Cf.p.136.
Idem., p.135.
HENDRIKSEN, Willian. Comentário do
Novo Testamento: Efésios e Filipenses. Trad. Valter Graciano Martins. 2ª
ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p.189,190.
STOTT, John. A Mensagem de Efésios: a nova sociedade de Deus. São Paulo: ABU, 2007. Cf. p. 86,87.
HENDRIKSEN, Willian. Comentário do
Novo Testamento: Efésios e Filipenses. Trad. Valter Graciano Martins. 2ª
ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p.141.
Nenhum comentário:
Postar um comentário